Quando a mídia fala em colesterol bom e colesterol ruim, frequentemente os jornalistas se referem ao LDL como o colesterol ruim. Eles o fazem porque acreditam que é o colesterol que causa a acumulação de placas nas artérias do coração. Mas você sabia que o LDL, no entanto, nem é colesterol? Ele é uma partícula de proteína (lipoproteína de baixa densidade) que carrega o colesterol (e os triglicerídeos) pela corrente sanguínea. Acredita-se, logo, que não é o colesterol o responsável pelo acúmulo perigoso daquelas placas, mas a própria partícula LDL.
Partículas densas e partículas leves
Primeiramente, você precisa saber que nem todas as partículas de LDL são iguais? Existem algumas delas que são grandes e leves; outras, pequenas e densas; e ainda existem outros tipos, entre essas duas. Estudos têm mostrado que são as partículas pequenas e densas que iniciam o processo de formação de placas nas artérias; e ainda assim, se houver inflamação presente. As partículas de LDL grande e leves não causariam algum problema. Algumas referências estão no rodapé desta página.
Colesterol ruim e triglicerídeos, o que os faz aumentar?

Em segundo lugar, o que a indústria alimentícia e farmacêutica não quer que você saiba é que as dietas ricas em açúcar e farináceos são ruins pra sua saúde de todas as maneiras : elas fazem diminuir o HDL (diminuir o colesterol bom), aumentar os triglicerídeos, a inflamação em todo o corpo e as partículas de LDL pequenas e densas. Em síntese, tudo o que é muito ruim pro seu organismo. Além disso, essa indústria ainda faz você acreditar que a gordura, principalmenta a saturada, faz mal pra saúde cardíaca, enquanto que estudos mostram que ela na verdade, o protege. Difícil de acreditar? Então, acompanhe aqui alguns argumentos, embasado em evidências científicas e em lógica:
1. A obesidade está diretamente ligada à doenças cardiovasculares. Quanto mais gordos fomos, mais probabilidade temos de sofrer um ataque cardíaco, por exemplo. Isto é fato mais do que documentado em toda literatura científica.
2. Quanto mais carboidratos simples e refinados comemos, mais engordamos. Quando trocamos nossa dieta por alimentos mais gordurosos e proteicos, como ovos, carne e gorduras boas; nós emagrecemos. Emagrecemos, e não engordamos! Isto também é fato documentado.
3. Então, é um paradoxo afirmar que essas duas premissas contrárias possam ser verdade: que o carboidrato refinado (repito: açúcar e farináceos) nos faz engordar e gorduras causam mal ao coração (isso contraria o argumento 1 acima, pois ao engordarmos ficamos doentes do coração, nao ao emagrecermos). Se uma é verdade, logo a outra é falsa.
4. Assim, é impossível que a dieta que nos faz emagrecer faça mal ao coração.
Colesterol ruim e gordura na alimentação – como surgiu o equívoco

Na verdade, a afirmação de que a gordura nos mata de problemas cardíacos já foi refutada cientificamente várias vezes. Nos anos 1960 demonstrou-se com pesquisas que dietas com alto teor de gorduras e restrição de carboidratos nos fazem emagrecer.[1] Entretanto, tudo começou a mudar nos anos 70, quando autoridades de saúde passaram a dizer que as gorduras entopem nossas artérias e nos engordam. Então, nos EUA foi lançada uma campanha para ensinar aos americanos que as dietas com baixo teor de gordura protegem o coração (o que se mostrou infundado depois, continue lendo). E isso poque, naquela época, os especialistas Nancy Ernst e Robert Levy, do Instituto Nacional do Coração, do Pulmão e do Sangue (NHLBI, em inglês), afirmaram que haveria alguns indícios de que a dieta com baixo teor em gordura diminuiria os níveis de colesterol no sangue. Ainda assim, isso não era certeza.[2]
Coelhos carnívoros?

Agora, mais uma coisinha interessante: a teoria que deu origem à diretriz acima citada foi fundada em uma pesquisa onde se observou que coelhos que comiam carne e gordura morriam de problemas cardíacos, devido ao aumento do seu colesterol. Mas coelhos são herbívoros, é claro que morrerão rapidamente se tratados com uma dieta carnívora. Seria a mesma coisa que eu e você fôssemos comer capim e esperar nos sentir bem porque capim faz bem pras vacas…
Então, com as nova diretrizes de comer menos gordura e menos ainda gordura saturada, esse consumo diminuiu “gradativamente ao longo dos anos que se seguiram, de acordo com as estatísticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – e, ainda assim, em vez de emagrecer, nós engordamos”[3] (grifo meu). E o que é ainda mais importante e alarmante: a incidência de doenças cardiovasculares nem sequer diminuiu, o que contrariava todas as expectativas. Ou seja, ficamos com medo das gorduras, as substituímos por grãos, farináceos e açúcar, e aí os problemas começaram.
Fato documentado e ignorado
E agora vem o pior: esse fato foi relatado e documentado em vários estudos. Por exemplo, foi publicado no The Journal of the Americam Medical Association, em 2009, por Elena Kuklina e colegas, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Eles fizeram alarde ao fato de que o número de americanos com altos níveis de LDL só vem diminuindo, (como era de se esperar com a abolição de gordura e o investimento em medicamentos pra baixar o colesterol receitado pelos médicos), mas – pasmem – o número de ataques cardíacos não diminuiu proporcionalmente. Em síntese, esses diversos estudos mostram que o colesterol alto não é um problema, se ele não estiver acompanhado de alto índice de triglicerídeos. Em outras palavras, é só cortar o açúcar e os farináceos e tudo vai bem!

Em resumo, o fato é que a adoção de uma dieta rica em carboidratos e pobre em gorduras NÃO coincidiu com o emagrecimento da população americana. Tampouco, com uma redução da incidência de doenças cardiovasculares. Mas, ao invés disso, coincidiu com o aumento exponencial da obesidade, entupimento das artérias e morte por problemas cardíacos, e isso, mesmo com níveis mais baixos de colesterol no sangue.
A melhor dieta para o coração
Certamente, isso é mais do que suficiente ao menos pra se questionar as diretrizes de evitar a gordura e de se colocar grãos, massas e pães como base da pirâmide alimentar! E é também uma boa razão para se duvidar de que a gordura natural dos alimentos seja o grande vilão da nossa alimentação.
Em conclusão, é evidente que a dieta que devemos seguir para emagrecer – a que restringe os maus carboidratos e libera, em quantidades normais, as proteínas, gorduras e vegetais – é também a dieta mais eficaz para prevenir doenças cardiovasculares. E você, vai ficar aí com medo de comer a pele do frango ou a costelinha assada? Eu teria mais medo dos pães, bolos e macarrão de todo dia… Vem comigo?
Este artigo é baseado no capitulo Princípios elementares da adiposidade – a natureza de uma dieta saudável, do livro Por que Engordamos: E o que Fazer Para Evitar, de Gary Taubes.
[1] KATAN, M. B. « Weight-Loss Diets for the Prevention and Treatment of Obesity », New England Journal of Medicine, v. 360, n. 19.
[2] ERNST, N. D.; LEVY R. I. « Diet and Cardiovascular Disease » In: Olson, R. E.; BROQUIST, H. P.: CHICHESTER, C. O. et al. (orgs.). Present Knowledge in Nutritioin, 5. ed., p. 724-739. Whashington, D. C.: Nutrition Foundation, 1984.
[3] TAUBES, Gary, Why we get fat: And What to Do About It – Alfred A. Knopf Edition, pag. 199

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